ANUNCIE AQUI
Ao assumir o comando do STF, Barroso defende direitos de minorias e maior participação de mulheres e negros no Judiciário
By MARCOS ANTONIO DE MELO at setembro 28, 2023
NOTICIAS
Ministro Luís Roberto Barroso vai suceder na presidência do tribunal a ministra Rosa Weber, que vai se aposentar. Em discurso, Barroso salientou a luta pela democracia e pela pacificação nacional: 'Um só povo'.
Por Fernanda Vivas, Márcio Falcão, Gustavo Garcia — Brasília
28/09/2023 16h22 Atualizado há 2 horas
Barroso é aplaudido durante posse como presidente do STF, nesta quinta-feira (28). — Foto: MATEUS BONOMI/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO
O ministro Luís Roberto Barroso tomou posse nesta quinta-feira (28) como o novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Edson Fachin assumiu como vice.
Em seu discurso de posse, Barroso defendeu direitos de minorias e afirmou que o Judiciário precisa de maior representatividade de mulheres e maior diversidade racial.
"Aumentar a participação de mulheres nos tribunais, com critérios de promoção que levem em conta a paridade de gênero. E, também, ampliar a diversidade racial", disse o ministro.
Setores da sociedade vêm reivindicando a indicação de uma mulher para o STF, na vaga da ministra Rosa Weber, que vai se aposentar.
Para Barroso, defender, por exemplo, direitos de indígenas e da comunidade LGBTQIA+, não é simplesmente progressismo, mas sim uma questão de respeito à humanidade.
"Há quem pense que a defesa dos direitos humanos, da igualdade da mulher, da proteção ambiental, das ações afirmativas, do respeito à comunidade LGBTQIA+, da inclusão das pessoas com deficiência, da preservação das comunidades indígenas são causas progressistas. Não são", argumentou.
"Essas são as causas da humanidade, da dignidade humana, do respeito e consideração por todas as pessoas", completou o ministro.
O novo presidente também reafirmou o compromisso do Judiciário com a democracia. Ele disse que o Brasil venceu a ameaça golpista, mas que agora é momento de pacificação nacional.
"O país não é feito de nós e eles. Somos um só povo", afirmou Barroso.
"O sucesso do agronegócio não é incompatível com a preservação ambiental. Pelo contrário. O enfrentamento à corrupção não é incompatível com o devido processo legal. Estamos todos no mesmo barco. Se ele naufragar o naufrágio é de todos", completou.
Democracia e ameaça de golpe
Grande parte do discurso do novo presidente foi dedicado à defesa da democracia e à lembrança de atos golpistas que ameaçaram o Estado de Direito. .
"Por aqui, as instituições venceram, tendo ao seu lado a presença indispensável da sociedade civil, da imprensa e do Congresso Nacional. E, justiça seja feita, na hora decisiva, as Forças Armadas não sucumbiram ao golpismo", salientou Barroso.
Harmonia entre poderes
Ao lado dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Barroso pregou diálogo e harmonia entre os poderes.
Nos últimos dias, parlamentares têm se movimentado para aprovar projetos que contrariam entendimentos do Supremo. Por exemplo: o projeto do marco temporal para demarcações de terras indígenas. A tese do marco já foi considerada ilegal pelo STF.
Neste momento do discurso, Barroso se dirigiu nominalmente a Pacheco e Lira.
"Nada obstante, é imperativo que o tribunal aja com autocontenção e em diálogo com os outros poderes e a sociedade, como sempre procuramos fazer e pretendo intensificar. Numa democracia, não há poderes hegemônicos. Garantindo a independência de cada um, conviveremos em harmonia, parceiros institucionais pelo bem do Brasil", declarou o ministro.
O início da sessão
Em agosto deste ano, Barroso e Fachin foram eleitos entre os colegas para o comando da Casa pelos próximos dois anos.
A sessão solene de posse contou com autoridades da República, como Lira e Pacheco, além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros de governo, ministros aposentados do STF e parlamentares.
Na véspera de uma cirurgia no quadril, Lula compareceu de máscara, por recomendação médica.
A ministra Rosa Weber, que deixa o cargo de presidente da Corte, fez a abertura da sessão. Ela vai completar 75 anos semana que vem, idade-limite para se aposentar, de acordo com a Constituição.
Discurso do decano
Em discurso, Gilmar Mendes, o ministro mais antigo do STF, lembrou os atos golpistas de 8 de janeiro e afirmou que o Supremo suportou ações de um "populismo autoritário" nos últimos anos.
Ele afirmou ainda que os Poderes "precisam cuidar para não se perderem em cortinas de fumaça diversionistas".
O decano também citou ataques contra o processo eleitoral verificados no ano passado. "Minar a confiança no nosso sistema eleitoral é propriamente minar a Constituição de 1988", disse.
Decano da Corte, Gilmar Mendes fala na posse de Barroso na presidência do STF — Foto: Reprodução
Sobre a trajetória de Luís Roberto Barroso, Gilmar ressaltou a atuação do colega no combate à desinformação.
"[Barroso tem se destacado] pela defesa intransigente da democracia e dos direitos fundamentais", afirmou.
O magistrado declarou ainda que "vivemos um tempo que requer compromisso inequívoco de todas as instituições com a Constituição de 1988".
Sucessão no STF
A sucessão no comando do STF segue a ordem da antiguidade, de forma que o vice-presidente é o provável sucessor de quem ocupa o cargo atualmente.
Barroso tem 65 anos e assumiu uma vaga no Supremo Tribunal Federal em 2013, indicado pela ex-presidente Dilma Rousseff.
Na presidência da Corte, Barroso vai herdar um acervo de 4.889 processos, de acordo com dados da área de transparência do tribunal.
Pelos números, a maioria destes procedimentos já têm uma decisão – 4.449. Ou seja, agora aguardam um eventual recurso.
Trajetória
O ministro é natural de Vassouras (RJ). É doutor em direito público pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e professor titular de direito constitucional na mesma universidade. Fez mestrado na Universidade de Yale (EUA), doutorado na Uerj e pós-doutorado na Universidade de Harvard (EUA). Trabalhou, ainda, como professor visitante nas Universidades de Poitiers (França), de Breslávia (Polônia) e de Brasília (UnB).
Barroso também é autor de diversos livros sobre direito constitucional e de inúmeros artigos publicados em revistas especializadas no Brasil e no exterior. O ministro, que fez carreira na advocacia, também já foi procurador do Estado do Rio de Janeiro.
Ainda como advogado, Barroso teve atuação em casos importantes do Supremo, como a liberação de pesquisas com células-tronco embrionárias, a proibição do nepotismo no poder judiciário, a defesa do reconhecimento das uniões homoafetivas e o direito de a gestante interromper a gravidez em caso de feto anencéfalo
Ao longo de dez anos no STF, o ministro foi relator de processos de grande repercussão. Entre eles, a análise de recursos do mensalão, a ação que trata da invasão e fixou restrições para acesso de terras indígenas, a que suspendeu despejos e desocupações em áreas urbanas e rurais em razão da Covid-19 e a manutenção das regras da Reforma da Previdência de 2019 e das normas que disciplinam a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) devido nas operações interestaduais destinadas a consumidor final não contribuinte do tributário.
Pela primeira vez na história do STF, Barroso ainda foi autor de um voto conjunto com o ministro Gilmar Mendes que restabeleceu o piso salarial nacional para enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem e parteiras, mas ressaltou que os valores devem ser pagos por estados, municípios e autarquias somente nos limites dos recursos repassados pela União.
Já no caso dos profissionais da iniciativa privada, o ministro previu a possibilidade de negociação coletiva.
O Supremo ainda vai analisar recursos à decisão sobre o piso salarial da enfermagem, apresentados pelo Senado e por entidades ligadas ao setor. Os ministros também ainda vão analisar o mérito da ação.
Foi a partir de votos do ministro que o plenário do Supremo que fixou regra de transição para adaptação de empreendimentos anteriores à Lei de Crimes Ambientais e derrubou lei de Roraima que proibia a destruição de bens apreendidos em operações ambientais.
Vice-presidência
O comando do Supremo terá na vice-presidência o ministro Edson Fachin, 65 anos.
Nascido em Rondinha (RS), Fachin é graduado em direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde atualmente dá aulas direito civil.
O ministro é doutor em direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Tem pós-doutorado no Canadá e é autor de diversos livros e artigos publicados.
Tomou posse como ministro do Supremo em junho de 2015, indicado pela então presidente Dilma Rousseff. Na Suprema Corte, é o relator de processos relativos à Lava Jato e de temas com repercussão social, como a chamada "ADPF das Favelas", que restringiu operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro no período da pandemia
No Tribunal Superior Eleitoral (TSE), passou a integrante titular em agosto de 2018. Em maio de 2022, assumiu a presidência da Corte Eleitoral, sucedendo o ministro Luís Roberto Barroso. Atuou no tribunal até agosto de 2022, quando deixou o cargo para a posse do ministro Alexandre de Moraes.
Related Posts:
Saiba quem é pastor alvo de investigação da polícia do DF contra grupo que prometia lucro de um octilhão de reaisOsório José Lopes Júnior é alvo de mandado de prisão, mas está foragido. Pastor é acusado de aplicar outro golpe em Goianésia, Goiás, em 2018. O pastor Osório José Lopes Júnior é um dos alvos da investigação da Polícia Civil… Read More
Lula se encontra com Zelensky em Nova YorkReunião começou por volta das 17h no horário de Nova York (18h, no horário de Brasília) e durou mais de meia hora O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, se reuniram em Nova… Read More
Faustão é internado em SP para exames; ele passou por transplante de coração em 27 de agostoApresentador recebeu alta há 10 dias. Segundo fontes, ele passa por exames já previstos. O apresentador Fausto Silva voltou a ser internado no Hospital Israelita Albert Einstein nesta quarta-feira (20), 24 dias depois de ter… Read More
Quantos zeros tem um octilhão, ganho prometido por grupo de pastores acusado de aplicar golpe em fiéis?Número que parece inventado é, na verdade, real na escala numérica. Entretanto, não dá para ganhar esse valor em reais (ou qualquer outra moeda) no mundo. Entenda o motivo. Um grupo de pastores acusado de praticar golpes fi… Read More
Onda de calor: Inmet emite alerta vermelho de grande perigo para nove estadosOnda de calor: Inmet emite alerta vermelho de grande perigo para nove estados O aumento da intensidade da onda de calor que afeta o Brasil fez o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) aumentar, nesta quarta-feira (20), o… Read More